Veterano no mundo circense, o
humorista Dedé Santana se divide entre nostalgia e incerteza ao falar sobre a
vida nos picadeiros. Aos 82 anos e ainda em atividade, o ex-trapalhão acredita
que o circo pode estar com os dias contados por uma série de fatores, entre
elas as exigências impostas aos organizadores. "Querem uma estrutura de
grande empresa", lamenta.
Dedé, que conta ter começado a atuar em circo aos três meses de vida,
analisa também que a preocupação com o tipo de piada feita nas apresentações é
outra dificuldade.
"Se as coisas continuarem assim, o circo vai
acabar em menos de cinco anos. Isso é muito, muito triste", desabafa.
Filho de artistas do circo, o humorista nasceu em
São Gonçalo (RJ). Interpretou Dedé no programa humorístico Os Trapalhões, que
foi ao entre 1977 e 1995 na TV Globo. Em 1998, participou de A Turma do Didi,
e, em 2010, de As Aventuras do Didi.
Para ele, as exigências impostas por
prefeituras e Corpo de Bombeiros dificultam a organização dos espetáculos
circenses.
"Querem uma estrutura de
grande empresa, como se fosse ficar instalada anos. Assim não dá, já que o
circo é itinerante e fica poucos dias".
Durante a entrevista, a nostalgia toma
conta do "ajudante de palhaço", definição que ele mesmo se dá. Dedé
lembra que, anos atrás, as apresentações circenses eram lotadas, as pessoas
riam das piadas e se admiravam com os números e acrobacias feitas pelos
artistas e animais.
No entanto, segundo ele, passou a haver,
cada vez mais, a preocupação com o teor das piadas feitas no palco, o que
motiva os palhaços preferirem, muitas vezes, encenações mudas.
"O politicamente correto
'amordaçou' os comediantes. Acaba sendo uma certa censura. Havia, sim, uma
brincadeira com determinados assuntos, mas não era para ofender ninguém, não
existia maldade", defende Dedé.
Além disso, passou a haver
também regras e fiscalizações mais duras em relação a participação de animais
nos picadeiros.
Segundo o ex-trapalhão,
como reflexo disso, os circos ficam mais vazios e em menor quantidade, e os
grupos circenses mudam de país para continuar as apresentações ou até mesmo
encerrem as atividades. "É lamentável, porque o circo é a mãe de todas as
artes", diz o humorista.
Dedé Santana encena o palhaço Careta no
espetáculo "Palhaços". Com direção de Alexandre Borges, o humorista
protagoniza a história que promove reflexão do papel do artista em relação ao
"mundo real".
"Quando eu recebi o
convite, falei que ia voltar às origens. Me apavorei ao ler o texto, porque vi
que não era o palhaço que estava acostumado a fazer, mas sim a vida real dele,
que também tem problemas financeiros e afetuosos, por exemplo", conta
Dedé.
Na encenação, o palhaço recebe um
vendedor de sapatos no camarim. Eles passam a se provocar, a falar sobre as
crenças e valores de cada um e a questionar a vida e a existência. O elenco
também conta com o ator Fioravante de Almeida.
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