Médicos, enfermeiros e auxiliares de hospitais públicos de Buenos Aires completaram nesta terça-feira (8) 24 horas de greve, com protestos na rua reivindicando melhores salários e condições de trabalho em meio a uma inflação projetada em 100% para este ano.
Sob o lema "a saúde em emergência", mais de mil profissionais da saúde marcharam pelo centro histórico da capital argentina. O ato aprofunda o conflito que os médicos residentes - aqueles que realizam sua especialização - mantêm há 14 dias, com os serviços reduzidos ao atendimento de urgência.
Os baixos salários estão desencorajando especializações médicas básicas. "Muitas residências ficaram vagas por falta de incentivos, em pediatria nunca houve tantas vagas não preenchidas", alertou Gustavo Frei, médico do Hospital de Crianças Ricardo Gutiérrez.
Na Argentina, um médico precisa de cinco anos de residência hospitalar para obter uma especialização. Durante esse período, ele trabalha cerca de oito horas por dia com plantões semanais de 24 horas por um salário que, em Buenos Aires, é de 120 mil pesos por mês, o equivalente a cerca de 700 dólares pelo câmbio oficial.
"Temos uma carga de trabalho altíssima e ganhamos salários paupérrimos que não condizem com a formação que temos. Estamos exigindo um salário inicial de 200 mil pesos (1.200 dólares)", explicou o médico residente Julio Díaz.
Desde o início da greve, há duas semanas, "todo o trabalho tem sido encarregado aos médicos do quadro permanente. Não há plantões para os pacientes, alguns serviços também estão fechando porque há demissões", disse Ricardo Knopoff, médico há 30 anos.
Segundo a endocrinologista Virginia Bustos, "a situação econômica do país mudou enormemente, um médico hoje tem que trabalhar em muitos lugares". "Estamos muito cansados", afirmou.
Enfermeiros também aderiram à greve. "Trabalho turnos de sete horas por dia com plantões semanais de 24 horas e recebo um salário básico de 85 mil pesos (510 dólares) por mês. Quem consegue viver com isso?", perguntou a enfermeira Roxana Méndez.
"O resultado é um segundo emprego. Trabalhamos no hospital e nas clínicas, dobramos turnos e plantões para 'montar' um salário decente, mas isso leva à exaustão e prejudica os pacientes", reclamou sua colega, a enfermeira Romina Albanil.
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