Segundo o governo das Canárias, o aumento significativo nos movimentos sísmicos em La Palma começaram no último sábado. De acordo com Metsul Meteorologia, na terça-feira passada foram mais de cem tremores. O comitê Pevolca frisou que a atividade magmatica tem "o maior valor observado nos últimos 30 anos".
A divulgação do alerta causou preocupação no Brasil e colocou o assunto entre os mais comentados nas redes sociais. Mas, afinal, as chances de acontecer esse fenômeno são motivo de real preocupação?
Na visão do professor Francisco de Assis Dourado, do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), as consequências de uma eventual erupção do vulcão na ilha La Palma não seriam as responsáveis por gerar ondas colossais. Ele explicou que as simulações que mostram a chegada de um tsunami usam velocidades extremas.
— Mas as probabilidades dentro desses parâmetros são muito pequenas — afirmou.
Para o geólogo André Avelar, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o risco de tsunami no Brasil depende diretamente da situação do Cumbre Vieja.
— Saber qual vai ser a magnitude disso, só depois que acontecer a erupção. Mas existe um estado de alerta prévio que isso pode acontecer, é o que está sendo divulgado no momento — afirmou. — Mas essas ondas chegariam muito mais rápido na costa da África e muito mais lentamente e atenuadas na costa do Brasil. Aqui os efeitos seriam menores.
Embora as chances de tsunamis na costa do país sejam raras, um fenômeno desse tipo já aconteceu por aqui. O perfil no Twitter da Rede Sismográfica Brasileira lembrou, numa postagem de 1º de novembro de 2020, quando um tsunami atingiu o litoral do Nordeste em 1755.
E para Dourado, um motivo de preocupação real para o Brasil seria um evento justamente como o que ocorreu em 1755, quando um terremoto atingiu Lisboa e acabou provocando de fato um tsunami que chegou no litoral do Nordeste. Se algo dessa forma se repetisse, aí sim o professor diria que os moradores poderiam começar a se preocupar.
— Eu diria que La Palma pode ser um motivo interessante para chamar atenção para o real risco que a gente tem no nosso litoral. E aí eu chamo atenção para uma coisa: pode ser um tipo de fenômeno que ocorre muito raramente — declarou. — Por exemplo, se o terremoto de 1755 (em Portugal) acontecesse novamente, nas mesmas proporções que ocorreram na época, que destruiu Lisboa e o Sul da Europa, aí a gente teria que se preocupar porque estaríamos falando de uma onda que chegaria (pelas simulações que a gente fez, bem embasadas cientificamente) em Fernando de Noronha com 2 metros de altura, e aqui na costa do Nordeste em alguns pontos em 1,7 ou 1,8 metro de altura.
O professor então disse que ondas dos tamanhos descritos podem ficar ainda maiores ao chegar à costa, com riscos de causar perdas e danos.
— Ou seja, vamos supor que chega uma onda de 2 metros no litoral: a altura máxima que ela vai alcançar é até regiões com altitude de 8 metros.
Alerta amarelo
O aumento rápido no número de terremotos e atividades sísmicas registrado nos últimos dias fez com que o alerta passasse de verde para amarelo, quando a população segue com suas atividades normais, mas atentas para comunicados das autoridades.
— O amarelo é (um alerta) intermediário. As pessoas devem ficar de sobreaviso e atentas porque pode haver alguma consequência — disse Avelar.
Depois do nível de atenção amarelo, há o nível laranja, quando é decretado atenção máxima para fenômenos que precedem uma erupção. Já no vermelho é feita uma notificação de emergência de que uma erupção está acontecendo.
— O monitoramento é fundamental para que as pessoas que moram na costa seham avisadas e deixem suas casas imediatamente. Pode haver prejuízo material, mas o importante é preservar a vida — disse Avelar.
Segundo ele, quando há terremotos muito próximos a um oceano, a tendência é gerar ondas:
— As boias monitoram o acréscimos de altitude. Conforme for o acréscimo, é calculado o tamenho da onda.
Para Avelar, caso haja a erupção do Cumbre Vieja, a costa africana deve ser mais afetada que a do Brasil. O geólogo frisou, ainda, que a situação atual não significa que uma erupção vá, de fato, acontecer: caso os terremotos secundários cessem, a região ficaria estabilizada.
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