Lembro de quando vi pela
primeira vez um tipo de cerveja diferente das quais eu estava habituado a
beber. As prateleiras eram restritas, poucos rótulos e uma ferrenha
concorrência entre as cervejarias Antárctica e Brahma. Eram basicamente essas
duas, pois aqui o mercado não era abastecido com variedades de rótulos. Vez por
outro uma Cerpa (carinhosamente apelidada de “Cerpinha”, da cervejaria do
Pará). Lembro quando a Brahma, em torno de 1985, lançou a Malt90. Eu e alguns
amigos na época gostávamos dela, recordo que dizíamos que ela era “levinha”, em
embalagens de 600ml e 300 ml, mas ela não foi bem aceita pelos consumidores e
sua vida útil foi bem curta e logo foi retirada do mercado.
Nos
bares eram vendidas também garrafas de cerveja de 300ml, eram “buchudinhas”,
chamadas de chopinho. Nos estádios de futebol eram comercializadas pelos
gasoseiros (como era e ainda são chamados os vendedores de bebidas em isopor
nos estádios). O ritual para por no copo era interessante, pois se abria a
garrafa e mergulhava o gargalo no copo e, aos poucos, iam retirando até sair
todo o líquido. Cervejas escuras basicamente apenas a Malzebier, que até hoje
vemos no mercado, que é uma cerveja doce e caramelizada. Fazia parte do
folclore dizer que fazia bem a mulheres grávidas, pois ajudava na amamentação.
Um fato interessante é que na Alemanha ela não é considerada cerveja e sim um
energético.
Mas voltando à “guerra” que existia entre
Brahma e Antárctica, em que, pelos menos aqui em Pernambuco, a chamada
“Antárctica de Olinda”, era disparadamente a mais apreciada. Era uma cerveja
muito gostosa, uma pilsen que agradava muito o paladar de quem a bebia, se
afirmava que o grande diferencial era a água que usava na sua produção, a água
mineral Santa Mônica. Infelizmente, devido a uma questão fiscal, deixou de ser
produzida aqui e por um tempo mudou a produção para a Paraíba. Quando isso
ocorreu as últimas grades produzidas pela Cervejaria, sediada na Avenida
Presidente Kennedy, em Olinda, eram muito disputadas, tendo até preços
diferenciados e, para se certificar da sua procedência, conferia-se a tampa.
Entre meus amigos cervejeiros tinham os que gostavam da Brahma, lógico, mas a
mais popular era mesmo a Antárctica de Olinda.
Então para dar uma mexida no mercado em mais uma capítulo do
que foi essa disputa acirrada, a Brahma lançou a Brahma-Extra. Era uma cerveja
opaca, que chegávamos a ver os insumos dela no copo. Lembrava apenas na
tonalidade uma weiss, mas bem mais clara. Não era fácil de se encontrar, mas
ela era mais apreciada que a sua irmã, Brahma Chopp.
Do lado da Antárctica veio a pilsen Extra. Pela tonalidade
era parecia uma cerveja Ale, não tão avermelhada, mas bem mais encorpada, forte
e saborosa. Era a que tinha a maior graduação entre todas. Era uma verdadeira
disputa conseguir grades nas antigas distribuidoras, pois se dava-se a
preferência de vendas para bares e restaurantes.
Aposto que muita gente que leu esse relato lembrou de muitas
experiências que viveu. Talvez quem não bebesse na época, pode ter se recordado
do seu pai no domingo ou em um estádio de futebol, curtindo uma cerveja gelada.
A tradição de consumir cervejas em Pernambuco é muito intensa, faz parte de
nossa cultura, das nossas praias e do nosso convívio familiar. O alicerce do
desenho do Polo Cervejeiro que hoje vive o Estado talvez venha daquela velha
“Antarctica de Olinda” que você bebeu. O futuro agradece!
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