Pouca gente gosta de falar ou pensar
sobre a morte, mas em uma região da Indonésia, os mortos participam do dia a
dia da população.
Um cheiro forte de café inebria o ar
dentro de uma sala de estar repleta de painéis de madeira. Vozes ecoam dentro
do espaço, que não tem móveis e possui apenas alguns quadros pendurados na
parede.
Trata-se de um
ambiente intimista e acolhedor.
"Como vai seu pai?",
pergunta um dos convidados. O humor muda rapidamente. Todos olham para um
pequeno quarto no canto, onde um homem idoso está deitado em uma cama colorida.
"Ele ainda está doente",
responde calmamente a filha dele, Mamak Lisa.
Sorrindo, ela se levanta e caminha
em direção ao idoso, e o balança gentilmente.
"Pai, temos alguns visitantes
para você. Espero que você não fique zangado ou se sinta desconfortável",
acrescenta ela.
Então, ela me convida para entrar no
quarto e conhecer Paulo Cirinda.
Os meus olhos estão fixados na cama.
Paulo Cirinda está completamente imóvel - nem pisca - embora eu dificilmente
possa ver seus olhos através de seus óculos empoeirados.
A pele dele tem um aspecto áspero e
cinzento, perfurada por inúmeros buracos, como se tivesse sido comida por
insetos. O resto do corpo está coberto por várias camadas de roupas.
De repente, os netos dele começam a
brincar dentro do quarto e me forçar a encarar a realidade.
"Por que o vovô está sempre
dormindo?", um deles me pergunta com uma risada insolente. "Vovô,
acorde e vamos comer", outro grita.
"Shhh…parem de importunar o
vovô; ele está dormindo", Mamak Lisa agarra os dois. "Vocês vão
deixá-lo zangado".
Ocorre que Paulo Cirinda morreu há
12 anos - mas sua família ainda acha que ele está vivo.
Para quem vê de fora, a ideia de
manter o corpo de um homem morto em casa parece grotesco.
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