domingo, 5 de junho de 2016

Sonho de bolsistas do Proupe ameaçado por falta de pagamento do Estado

Rodrigo Amaral, 26 anos, mora na zona rural de Custódia, Sertão pernambucano. Cícera de Cássia, 21, também é sertaneja de Afogados da Ingazeira. Maria de Lourdes Gomes, 30, vive em um sítio em Canhotinho, no Agreste do Estado. São filhos de agricultores e os primeiros (ou únicos) da família a ingressarem na faculdade, graças a bolsas que recebem do Programa Universidade para Todos de Pernambuco (Proupe).

Eles vibram com a possibilidade de conseguir diploma para construir um futuro diferente dos seus pais ou avós, que mal terminaram a educação básica e sobrevivem do que brota da terra. Mas os sonhos deles podem ser  interrompidos porque as instituições em que estudam – todas autarquias municipais – estão acumulando dívidas e atrasando salários de professores e funcionários devido ao não repasse regular da verba do programa, criado e mantido pelo governo estadual desde 2011.

Já são três meses sem receber (março, abril e maio), o que representa cerca de R$ 4,2 milhões ainda não pagos pelo Executivo este ano. A parcela de fevereiro foi quitada no último dia 25. O problema começou no ano passado, quando os atrasos também foram frequentes.

O programa, lançado pelo então governador Eduardo Campos, beneficia atualmente 8.808 jovens e foca sobretudo na formação de professores. Começou com 6 mil bolsas, duplicou esse número em 2014 e desde o ano passado vem diminuindo a oferta. A meta do governo é terminar o ano com 7.916 bolsistas.

“Serviços essenciais para o funcionamento das autarquias, como água, energia e internet, não estão sendo pagos. O atraso do governo compromete também a folha salarial, desestrutura investimentos e prejudica a implantação de novos cursos”, ressalta o presidente da Associação das Autarquias de Pernambuco (Assiespe), Rinaldo Remígio, que dirige a Facape, em Petrolina, no Sertão.

As autarquias de ensino são entidades de direito público, sem fins lucrativos e autônomas, ligadas às prefeituras.

Juridicamente podem cobrar mensalidades porque embora sejam consideradas públicas não são mantidas pelo poder Executivo.

Segundo a Assiespe, com o Proupe houve um crescimento de 21,6% na quantidade de alunos (maior parte em cursos de licenciatura) e redução de 70% para 5% na taxa de evasão. Outro aspecto positivo da iniciativa é contemplar vestibulandos que ficam de fora das concorridas seleções das Universidades Federal (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), interiorizadas uma década atrás; da Universidade de Pernambuco (UPE), que se expandiu também dez anos atrás; e da Federal do Vale do São Francisco (Univasf), implantada em 2002 em Petrolina.

DESAFIOS - Lourdes é casada e mãe de um adolescente. Adiou o desejo de ingressar na faculdade por causa da família. Agora cursa o 5º período de enfermagem na autarquia de Belo Jardim (cerca a 75 km de Canhotinho). Sai de casa às 4h50 para 7h30 chegar na instituição de ensino. Paga por mês R$ 300 de transporte entre as duas cidades. Mais R$ 6 por dia do sítio Olho d’Água, onde reside, até Canhotinho. “Minha mãe me ajuda com as despesas do curso porque meu marido é agricultor. Sem o Proupe, eu e 90% da minha turma não teríamos como estudar”, afirma Lourdes.

Fonte: Jornal do Comércio

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