Rodrigo Amaral, 26 anos, mora na zona rural de Custódia, Sertão pernambucano. Cícera de Cássia, 21, também é sertaneja de Afogados da Ingazeira. Maria de Lourdes Gomes, 30, vive em um sítio em Canhotinho, no Agreste do Estado. São filhos de agricultores e os primeiros (ou únicos) da família a ingressarem na faculdade, graças a bolsas que recebem do Programa Universidade para Todos de Pernambuco (Proupe).
Eles vibram com a possibilidade de conseguir diploma para construir um futuro diferente dos seus pais ou avós, que mal terminaram a educação básica e sobrevivem do que brota da terra. Mas os sonhos deles podem ser interrompidos porque as instituições em que estudam – todas autarquias municipais – estão acumulando dívidas e atrasando salários de professores e funcionários devido ao não repasse regular da verba do programa, criado e mantido pelo governo estadual desde 2011.
Já são três meses sem receber (março, abril e maio), o que representa cerca de R$ 4,2 milhões ainda não pagos pelo Executivo este ano. A parcela de fevereiro foi quitada no último dia 25. O problema começou no ano passado, quando os atrasos também foram frequentes.
O programa, lançado pelo então governador Eduardo Campos, beneficia atualmente 8.808 jovens e foca sobretudo na formação de professores. Começou com 6 mil bolsas, duplicou esse número em 2014 e desde o ano passado vem diminuindo a oferta. A meta do governo é terminar o ano com 7.916 bolsistas.
“Serviços essenciais para o funcionamento das autarquias, como água, energia e internet, não estão sendo pagos. O atraso do governo compromete também a folha salarial, desestrutura investimentos e prejudica a implantação de novos cursos”, ressalta o presidente da Associação das Autarquias de Pernambuco (Assiespe), Rinaldo Remígio, que dirige a Facape, em Petrolina, no Sertão.
As autarquias de ensino são entidades de direito público, sem fins lucrativos e autônomas, ligadas às prefeituras.
Juridicamente podem cobrar mensalidades porque embora sejam consideradas públicas não são mantidas pelo poder Executivo.
Segundo a Assiespe, com o Proupe houve um crescimento de 21,6% na quantidade de alunos (maior parte em cursos de licenciatura) e redução de 70% para 5% na taxa de evasão. Outro aspecto positivo da iniciativa é contemplar vestibulandos que ficam de fora das concorridas seleções das Universidades Federal (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), interiorizadas uma década atrás; da Universidade de Pernambuco (UPE), que se expandiu também dez anos atrás; e da Federal do Vale do São Francisco (Univasf), implantada em 2002 em Petrolina.
DESAFIOS - Lourdes é casada e mãe de um adolescente. Adiou o desejo de ingressar na faculdade por causa da família. Agora cursa o 5º período de enfermagem na autarquia de Belo Jardim (cerca a 75 km de Canhotinho). Sai de casa às 4h50 para 7h30 chegar na instituição de ensino. Paga por mês R$ 300 de transporte entre as duas cidades. Mais R$ 6 por dia do sítio Olho d’Água, onde reside, até Canhotinho. “Minha mãe me ajuda com as despesas do curso porque meu marido é agricultor. Sem o Proupe, eu e 90% da minha turma não teríamos como estudar”, afirma Lourdes.
Fonte: Jornal do Comércio
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