sexta-feira, 31 de julho de 2015

HISTÓRIA DE REPORTE: JOSÉ MENDONÇA BEZERRA

Por Magno Martins
Truculento para uns, amado e temido para outros, mas acima de tudo formidável articulador político, o ex-deputado José Mendonça Bezerra (DEM) morreu em abril de 2011 sem realizar um velho sonho: governar Belo Jardim, sua terra natal, onde mantinha sua principal base eleitoral e negócios na área empresarial. Já conhecia esse desejo de Mendonção, como assim o tratava, de há muito tempo.
Na verdade, desde que deixou a Câmara dos Deputados em 2010, depois de oito mandatos consecutivos. Entre um gole de vinho e uma garfada num pernil de carneiro, que adorava, rodeado de amigos em seu apartamento de Brasília, sempre às quartas-feiras, ele deixava brotar esse desejo, que estava, infinitamente, abaixo de outro: ver Mendonça Filho, seu herdeiro político, eleito governador de Pernambuco.
Não realizou nenhum nem outro. Mendoncinha(DEM), como é conhecido, chegou a disputar o Governo estadual em 2006, apoiado por Jarbas Vasconcelos (PMDB), mas perdeu para Eduardo Campos (PSB). A derrota foi o maior baque político e emocional que Mendonção carregou até a morte.
Assisti, por diversas vezes, o velho cacique chorar copiosamente, durante longos desabafos, como também presenciei outro momento ímpar, muito emocionante de sua vida: a posse de Mendoncinha, que governou o Estado por nove meses, substituindo Jarbas, de quem foi vice por dois mandatos.
Tive brigas homéricas com Mendonção, pavio curto na relação com jornalistas. Seu calo eram notas em minha coluna que contrariavam Mendonça Filho. Mas ele não brigou apenas comigo. Talvez o radialista Lúcio Vieira, que trabalhou por muito tempo na Rádio Clube, lidere o ranking dos desencontros. Lembro-me ainda de Zadock Castelo Branco, ex-DP, que quase apanha fisicamente.
Numa sexta-feira de semana pré-carnavalesca, não sei a título de que, noticiei algo, certamente com Mendoncinha, que enfureceu Mendonção. No final da tarde, toca o telefone na redação da Folha de Pernambuco e do outro lado da linha ouço um político e pai, ao mesmo tempo, totalmente descontrolado, fazendo duras ameaças a mim. “Comprei duas mesas para o baile do Siri hoje, mas não vou mais para não encontrá-lo lá e quebrar a sua cara”, ameaçou.
Mendonção era assim. Mas sua ira era passageira, de poucos momentos. Depois, se arrependia. Recorria a amigos em comum em busca da reconciliação ou ele próprio, humildemente, pedia desculpas. Nunca conheci, entretanto, um político tão bem informado, uma fonte imprescindível para qualquer jornalista. Nosso último encontro, que não me pareceu como despedida, se deu um mês antes da sua internação.
Almoçamos no restaurante Bargaço, Zona Sul do Recife, e lá me revelou que estava fazendo exames e após o checkup iria se voltar para Belo Jardim. “Quero encerrar minha trajetória como prefeito de minha terra”, reiterou. Dois meses após, veio a notícia da sua morte. Fiquei matutando a frase nos funerais em Belo Jardim. Sua amada cidade parou para lhe dar o último adeus, saudosa do líder e filho amado.
Por lá encontrei até o ex-deputado Cintra Galvão, com quem Mendonção brigou a vida inteira pelo monopólio político do município. A habilidade do ex-deputado ficou famosa no Estado quando construiu a candidatura de Jarbas a governador pela chamada União por Pernambuco. O carimbo da aliança saiu durante um histórico churrasco em sua fazenda entre Belo Jardim e São Bento do Una.
Mendonção chegou na Câmara dos Deputados em 1979, em pleno processo de abertura. Em 1994, demonstrou força eleitoral ao lançar-se candidato à reeleição, ao mesmo tempo em que lançou Mendonça Filho para deputado federal. Os dois se elegeram. Neste mesmo ano, idealizou de uma articulação política que mudaria a história política de Pernambuco, ao unir PFL e PMDB, então adversários históricos.
Por causa disso, ficou conhecido como o pai da aliança União por Pernambuco que, quatro anos depois, conseguiria eleger Jarbas Vasconcelos governador, derrotando Miguel Arraes. Mendonção nunca mudou de lado, esteve sempre na direita e assumido. Começou na Arena, na época da ditadura, com o primeiro mandato de deputado estadual, em 1966. Ao longo da vida pública, só mudou de partido uma vez, saindo do PDS para o PFL, uma dissidência da antiga legenda favorável à eleição indireta de Tancredo Neves.
Foi um dos mais fiéis escudeiros do Governo Jarbas e o pivô de várias polêmicas com o ex-senador Sérgio Guerra (PSDB). Pelo amor ao filho e preocupado com o seu futuro bateu menos do que pretendia em Guerra. Só se referia ao desafeto de Severino. Guerra, na verdade, tinha o Severino antes do Estelita Guerra, mas escondia.
Entre os políticos, Mendonção sempre foi conhecido por rompantes, mas por sua hábil facilidade de arquivar divergências. Sua vida pública, de 44 anos, terminou com um discurso de sete páginas, no plenário da Câmara dos Deputados. Em seu último pronunciamento como parlamentar, ressaltou um aspecto raro na política atual: a importância de se ter um lado e saiu da cena política dizendo-se orgulhoso. “Sei o tempo de chegar e partir”, destacou.
A “Baraúna do Agreste”, nome de batismo que ganhou logo após a primeira surra eleitoral em Cintra Galvão na sua terra natal, faleceu, por ironia do destino, num domingo de Páscoa, exatamente no dia 24 de abril de 2011, aos 75 anos, de infecção generalizada.
Fonte: Blog Magno Martins

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