Escola é pública, mas não é para todos

O resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entre as escolas públicas de Pernambuco não surpreende. Mais uma vez, a "escola campeã" é o Colégio de Aplicação da UFPE, que, inocentemente, alguns colegas fazem questão de noticiar como "a escola pública que dá certo" e a população faz de conta que temos uma instituição de qualidade à qual todos podem ter acesso, basta passar pela seleção.
Ok. Não vamos duvidar da competência dos colegas que trabalham no Aplicação, tampouco do preparo dos alunos que ali estudam. O Enem e outros exames estão aí para provar a verdade. Mas o problema não é esse.
O que incomoda é o fato de uma quantidade tão pequena de jovens poder usufruir desses benefícios. Além de serem poucos, esses estudantes são justamente os que poderiam pagar para ter acesso a uma boa educação. Prova disso é o dinheiro que gastam em cursinhos, a fim de terem acesso a dicas para conseguirem aprovação.
Infelizmente, aqueles alunos sacrificados, que cursam a educação infantil e as primeiras séries do ensino fundamental em escolas públicas, não têm acesso ao Colégio de Aplicação. Lembro de uma vez que fui conhecer a Escola do Recife, que é a escola de aplicação da Universidade de Pernambuco (UPE). Meu interesse era saber como funcionava a seleção para incentivar minha afilhada a estudar lá. Assim que comecei a conversar com um funcionário, ele me revelou: "Aqui, os alunos já chegam bem preparados. Eles vêm das mais caras melhores escolas da cidade. E ainda enfrentam uma concorrência maior do que a do vestibular para entrarem aqui", relatou. Desisti.
Fiquei pensando se valia a pena submeter uma criança de 10 anos a tantas exigências. E se seria saudável ensiná-la, tão cedo, a ser competitiva, a sacrificar o seu tempo de brincadeiras, convivência com a família, para investir apenas em estudo. Cheguei à conclusão de que seria melhor deixar a menina viver a sua fase da forma como muitas outras crianças sempre viveram e, nem por isso, deixaram de conquistar bons empregos e de serem felizes.
Não podemos comemorar quando temos escolas públicas "de qualidade" cujo público é formado apenas por jovens de classe média. Também é muito perigoso ensinarmos os estudantes, desde cedo, a priorizarem a competitividade, e, pior do que isso, a assumirem o compromisso de serem, sempre, os "melhores". Escola é para aprendizado, para o incentivo ao trabalho em grupo, para se fazer amizades que podem durar por toda a vida. Isso é que deve ser prioridade. Competitividade a gente deixa para depois. Sem sentimento de culpa.

Fonte: Blog Diário de Classe