quinta-feira, 30 de junho de 2011

Educação: Tem mesmo que ser assim?


A novidade do momento é a proposta de inserção de mais uma disciplina no ensino básico. Isso mesmo. O Conselho Nacional de Educação estuda a possibilidade de, a partir de 2012, adicionar ao currículo uma disciplina sobre direitos humanos.
Nós, professores que temos visto, a cada ano, a inserção de novas disciplinas, começamos a questionar a respeito da real necessidade dessas matérias.
Vou explicar a partir da realidade que vivo: a das escolas estaduais. Nos últimos anos, foram incluídas no currículo disciplinas como História de Pernambuco e Cidadania. Primeiro problema: o horário de aulas continua o mesmo. Ou seja, é necessário "imprensar" as novas matérias e isso provoca prejuízos na carga horária de outras disciplinas, como história e geografia, por exemplo. Segundo problema: o Estado não contrata professores capacitados. Quer obrigar quem fez concurso para outras disciplinas a assumir as novas. É mais ou menos assim que funciona: o diretor, na primeira reunião do ano, informa ao professor de geografia que a carga horária dele diminuiu e, "para que ele não seja prejudicado, precisa assumir o ensino das novas matérias". Simples assim. E se o professor não quiser? Se alegar que fez concurso para ensinar geografia, somente geografia?! Além de ficar visto como "o professor que gosta de fazer confusão", como castigo, terá que completar sua carga horária em outra escola, que nem sempre é perto. Aí, já sabe, é aquela confusão para conciliar os horários de uma escola com outra.
Diante de tanto transtorno, o questionamento: seria mesmo necessário inserir essas disciplinas no currículo? Por que não inovar de outra forma?
Em relação a direitos humanos e cidadania, por exemplo, muitos professores já abordam esses assuntos como temas transversais. Isso quer dizer que trabalham direitos humanos e cidadania em sala de aula, mesmo ensinando outras disciplinas. Aliás, essa poderia ser uma proposta bem mais eficaz porque incentivaria os professores a deixarem para trás de uma vez aquelas formas tradicionais e ultrapassadas de ensino em que prevalece o decoreba de datas, fórmulas, regras gramaticais e valorizaria modelos de aulas mais interessantes, que, além de levarem o estudante ao aprendizado específico de disciplinas, incentivam a discussão sobre temas transversais. Processos como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e os principais vestibulares do País, inclusive, têm exigido dos professores que trabalhem dessa forma.
ONGs, autoridades e outras instituições envolvidas com educação, podem estar cheios de boas intenções, mas, antes de sugerir mudanças deveriam refletir sobre suas necessidades e, principalmente, sobre os transtornos que podem causar.
A educação brasileira precisa, sim, de transformações, mas, para que as mudanças sejam eficazes, é necessário, antes de tudo, discussão, planejamento e, principalmente, respeito aos protagonistas dessa história: professores e alunos.

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