Uma professora de
matemática devolveu à prefeitura de Chã Grande, no Agreste
de Pernambuco, mais de R$ 70 mil depositados equivocadamente na conta bancária
dela. O exemplo de honestidade veio de Silvânia Silva, de 37 anos, apenas 15
dias depois que ela trocou de profissão, ao assumir o cargo de auxiliar de
serviços gerais no município.
Silvânia era
contratada temporária na Secretaria de Educação de Chã Grande, até abril. Com a
proximidade do fim do contrato, ela decidiu fazer um concurso público na cidade
para buscar estabilidade. No entanto, para a vaga de professora de matemática,
havia apenas uma vaga, e ela temia, além de ficar sem contrato, perder toda a
renda.
"Sabia que meu
contrato era só até abril e só havia uma vaga para matemática. Pensei que seria
muito difícil, porque eu não tenho mestrado, só tenho pós-graduação. Pensei que
tinha que fazer o concurso para alguma coisa, porque preciso pensar no meu
filho de 2 anos. É uma profissão honesta, já fui babá, já trabalhei fazendo
faxina e para mim ser de serviços gerais não é uma desonra. Eu só não passei
ainda no meu curso de matemática, mas essa foi uma porta que se abriu",
disse.
Com 15 dias de
empossada na prefeitura, Silvânia, que mora em Gravatá, foi ao banco
para tentar descobrir o porquê de o cartão, com o qual ela receberia o salário,
ainda não tinha chegado. No local, ela pediu ao gerente para ver o saldo na
conta e teve a surpresa: R$ 70.368,86, pagos, teoricamente, pelos 15 dias que
ela passou na prefeitura. Era o equivalente a 5 anos e meio de trabalho, de uma
só vez.
O dinheiro, no entanto, não demorou na
conta de Silvânia. Segundo ela, sequer passou pela cabeça ficar com o valor,
que, ela sabia, não era dela.
"Na hora, eu liguei para uma
amiga, que perguntou o que eu faria. Respondi que ia devolver e ela disse que
não esperava outro gesto meu. Não tinha como eu ficar com esse dinheiro, porque
eu não trabalhei, aquilo que não era meu, não iria servir para mim",
afirmou.
Segundo Silvânia, até a devolução do
dinheiro foi trabalhosa, mas ela jamais mudaria de ideia. No banco, ela foi
informada que o valor só retornaria à prefeitura se ela, por espontânea
vontade, decidisse devolver. Para isso, ela precisou sair de Chã Grande, ir até
Gravatá e, de lá, voltar à cidade onde trabalha para fazer a transferência
pessoalmente.
"Fui até o setor de RH da prefeitura e, quando cheguei, a menina estava chorando. Quando ela me viu, chorou ainda mais. Eu só tinha tido contato com ela uma vez, no dia da posse do cargo, mas tentei acalmá-la. Ela disse que não sabia o que aconteceu e que, apesar de estar no emprego há cerca de um ano, nunca cometeu um erro assim, porque sempre conferia tudo", declarou.
A prefeitura abriu um processo
administrativo para investigar de onde partiu o erro nas contas. Segundo o
prefeito Diogo Alexandre (PL), sequer deu tempo de contactar a servidora,
porque Silvânia já tinha se mobilizado para devolver o dinheiro.
"De imediato, quando identificamos que tinha um pagamento superior, começamos a fazer um encontro de contas e, quando tínhamos identificado, antes de entrar em contato com Silvânia, ela, por iniciativa própria, procurou a prefeitura. O erro foi que, quando o nosso setor de RH lançou o salário de R$ 1.045, houve um erro no lançamento, que entrou como horas trabalhadas. Multiplicando, isso chegou a R$ 70 mil", explicou o prefeito.
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